Faz parte da cultura e ética brasileira o chamado ‘jeitinho.’ Culturalmente ele é uma maneira de viver. Eticamente é um posicionamento diante do certo e do errado. O Brasil é conhecido pelo seu ‘jeitinho’ e Maria Esperança Torres o define de maneira brilhante: ‘o jeitinho brasileiro significa que não há absolutos e nem regras invioláveis. Tudo pode ser mudado na conversa, com dinheiro ou com influências.’ Foi o ‘jeitinho’ que criou figuras conhecidíssimas como a do malandro. Sociologicamente o malandro era o bandido ou o corrupto. Hoje ele é o esperto, aquele que resolve todas as coisas e consegue tudo, ainda que por meios obscuros. E, curiosamente, o malandro se transformou em um ídolo nacional, todos querem ser amigos de alguém que consiga ‘dar um jeito’ nas coisas. Em vez de malandro chamamos tais pessoas de espertos e o drama de consciência desaparece rapidamente. Aliás, chegamos a dizer que o mundo é dos ‘espertos’ e ensinamos as crianças que para vencer na vida é necessário ter ‘esperteza.’A ‘esperteza’ aqui não é sinônimo de rapidez ou inteligência mas sim de ‘jeitinho.’ Lívia Barbosa, autora do livro O Jeitinho Brasileiro – a arte de ser mais igual que os outros, diz que “tal fenômeno ocorre com todos aqui no Brasil, indistintamente e independentemente de raça, credo ou papel social. Não seria ousado dizer que no Brasil não existe aquele que já não o tenha usado.” Se Lívia estiver certa caímos em um grande problema ético: onde fica a honestidade, a retidão, a justiça, os valores morais e a dignidade diante do ‘jeitinho’? E mais: e os valores cristãos? Crente também resolve as coisas com um ‘jeitinho’?
Antes de falar no ‘jeitinho’ é bom lembrarmos de um dos atributos morais de Deus que é a justiça. A bíblia diz claramente que Deus “é justo juiz” (Salmos 7:11) e que “ ama a justiça” (Salmos 11:7; 33:5: 37:28; 99:4). Deus não admite ‘jeitinho.’ E por não admitir exige que sejamos também justos e até nos chama assim (Salmos 34:19; 37:25; 55:22; 64:10; 92:12 e outros). Como justiça e ‘jeitinho’ não combinam começamos a perceber que o cristão não pode defender e muito menos praticar atos que mesmo sendo aceitos pela sociedade acabam ferindo princípios éticos e morais. Para o cristão valem as palavras de Jesus Cristo: “Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno” (Mateus 5:37). E é exatamente aqui que esbarramos no grande impasse entre o cristianismo e o ‘jeitinho.’ Em nome do ‘jeitinho’ perdemos a referência do ‘sim’ e do ‘não.’ Queremos achar um meio termo para tudo. Não queremos desagradar ninguém. Acabamos entrando pelo campo do conveniente e do ‘politicamente correto’ e não do justo e do certo. Criamos o ‘jeitinho cristão’ que não está na bíblia e nem foi ensinado por Cristo e que tem como objetivo principal o ‘resolver as coisas’ ainda que pelos meios errados.
O Salmista entendeu que o ‘jeitinho’ não era uma opção para os servos de Deus e por isso declarou: “escolhi o caminho da fidelidade e decidi-me pelos teus juízos” (Salmos 119:30). Josué entendendo a mesma coisa deixou claro que ao servo de Deus cabe decidir entre o Senhor e os outros: “Porém, se vos parece mal servir ao SENHOR, escolhei, hoje, a quem sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais que estavam dalém do Eufrates ou aos deuses dos amorreus em cuja terra habitais. Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR” (Josué 24:15). Servos de Deus sempre precisam decidir entre Deus e o mundo e entre o certo e o errado. Não há como ficar em cima do muro e nem dar um jeitinho para agradar ambos. Tiago nos relembra as mesmas palavras de Jesus Cristo ao dizer: “Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outro voto; antes, seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para não cairdes em juízo” (Tiago 5:12). Não há como escapar do sim e do não. E exatamente por esse motivo não há como fugir de realidades espirituais como o pecado, a obediência a Deus, os valores do Reino de Deus, a perdição eterna e outros temas que gostaríamos de não tratar com tanta definição. Alguns até tentam. Para diminuir o peso do pecado usam termos como ‘erro, desvio, problema.’ Para fugir da obediência alguns alegam não conhecê-la. Para desprezar os valores do Reino de Deus falam em contextualização e ‘novos tempos.’ Para escapar da perdição eterna preferem pensar em um Deus ‘tão bom que não mandaria ninguém para o inferno.’ Nada disso vale. ‘Jeitinho’ não funciona no relacionamento com Deus.
Há uma frase muito séria, de origem desconhecida, sobre a grande necessidade do Brasil. Diz o autor: “O problema do Brasil não é dos sem-terra, sem-teto, sem-camisa.
É sim, dos sem-caráter e sem-vergonha.” Aplico essas fortes palavras da seguinte maneira: precisamos de crentes que assumam os riscos de sua fé. Que obedeçam a Deus ainda que venham a perder alguma coisa com isso. Que estejam do lado dos valores do Reino de Deus e a eles se submetam. Que saibam dizer ‘sim’ ou ‘não’ e que assumam as conseqüências de seus atos, mesmo que socialmente estejam corretos. O sábio declarou em Provérbios 26:18 19: “Como o louco que lança fogo, flechas e morte, assim é o homem que engana a seu próximo e diz: Fiz isso por brincadeira.” Precisamos assumir o que falamos e mais do que isso: o que fazemos. Não há ‘jeitinho’ na vida cristã. Ou somos, ou não somos. Não há meio termo.
Não há para nós ‘jeitinho’ ainda que sejamos brasileiros. Precisamos assumir de uma vez por todas nossa fé e nosso modo de viver e pensar cristãos. Talvez seja esse um dos maiores testemunhos que poderemos dar ao mundo.

Fonte : Pastor Dr. Guilherme de Amorim Ávilla Gimenez

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