TEXTO BÁSICO: ... tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz. (Cl 2:14)

INTRODUÇÃO: Dando continuidade à nossa tarefa de explicar corretamente alguns textos sagrados referentes às doutrinas bíblicas da alimentação saudável e do santo sábado do Senhor, hoje, analisaremos Cl 2:14, texto que, segundo alguns cristãos, anula a guarda do sábado no sétimo dia. Ao estudá-lo, dentro do seu contexto, entretanto, constataremos que o quarto mandamento da lei de Deus não foi cancelado na cruz de Cristo. Tal verdade já ficou evidenciada na lição número 6, quando vimos o tratamento respeitoso que o Mestre Jesus e seus discípulos deram a esse dia, tratamento este que deve ser imitado por todos os cristãos na face da terra, a fim de que tenhamos cumprida a promessa que nos diz: Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele. (Jo 14:21)[...]
 
II – A INTERPRETAÇÃO CORRETA
Antes da interpretação propriamente dita, é importante conhecermos o contexto geral da epístola aos Colossenses, cuja autoria é atribuída ao apóstolo Paulo, pela maioria dos teólogos. Cria-se, todavia, desde os tempos mais antigos, que esta epístola havia sido escrita em Roma, com as epístolas aos Filipenses, Filemom, I e II Timóteo e Tito, no período em que o apóstolo Paulo esteve aprisionado naquela cidade; entretanto, a linha de pensamento que hoje prevalece entre os estudiosos é a de que tais epístolas possam ter sido escritas por Paulo em uma de suas prisões, como no caso de Cesaréia ou Éfeso.


Algumas passagens nesta carta (Cl 1:4, 2:1) deixam evidente que Paulo não conhecia a maioria dos crentes de Colosso, o que dificilmente o credenciaria para ser reconhecido como o fundado da igreja naquela localidade. Colosso era uma cidade que pertencia à província romana da Ásia e é possível que o evangelho a tenha alcançado durante o período em que o apóstolo Paulo esteve evangelizando a cidade de Éfeso (At 19:10), fazendo, possivelmente, com que, através de Epafras, que era cidadão colossense, a mensagem de Cristo chegasse à cidade de Colosso (Cl 1:7, 4:12).


Se retrocedermos ao cenário da religiosidade cristã, nos tempos do apóstolo Paulo, iremos encontrá-lo envolvido, dividido e bombardeado por algumas correntes destoantes do genuíno evangelho de Cristo, que procuravam encontrar simpatizantes para suas teorias. A jovem igreja que se instalara na cidade de Colosso, assim como as igrejas da Galáxia, de Éfeso e Roma, dentre outras, muito sofria pelas divergências internas promovidas por judeus recém-convertidos ao Cristianismo, mas com enormes dificuldades em se desligarem completamente do antigo modo de vida ritualista que mantinham no judaísmo. Como se isto não bastasse, tentavam impor o mesmo modo de vida aos cristãos daquela localidade.


Hoje, temos séculos de Cristianismo, que nos proporcionaram experiência e maturidade para fazermos distinção clara entre uma coisa e outra; infelizmente, os irmãos de Colossos, não podendo desfrutar deste mesmo benefício, deixaram-se enredar por práticas judaicas que não tinham lugar no Cristianismo. Entre as práticas que os judeus novos convertidos lutavam por introduzir ao Cristianismo destacava-se a observância da lei cerimonial, notadamente os dias de festa, como a páscoa, o pentecostes, o dia da expiação, a festa dos tabernáculos, da lua nova e outras celebrações. Naturalmente, o apóstolo Paulo ensinou à igreja de Colosso que tais ordenanças e festividades foram riscadas ou cravadas na cruz, por Cristo, e que, ali, cessaram, automaticamente, os tipos de "sombras" que para ele apontavam.


É importante, nesse contexto, sabermos que os colossenses também eram profundamente assediados por mestres do gnosticismo (crença baseada no conhecimento como fonte de libertação espiritual – Cl 2:8); haviam absorvido práticas cerimoniais do judaísmo, como as doutrinas da alimentação, das festas de dias, etc. e radicalizado esses preceitos, através da abstenção absoluta de todos os tipos de carne e da inércia absoluta nos dias de sábados festivos e no sábado do Senhor. Isso os levou para um ascetismo rigoroso, por considerarem o isolamento uma das melhores formas de manterem sua suposta pureza espiritual. Com isso, criaram uma forma de legalismo (crença na libertação espiritual através das obras da lei) mais severo que o praticado pelos fariseus. Como isso não bastasse, através de vãs filosofias, colocaram Cristo na mesma igualdade dos anjos (Cl 2:18); criaram o culto tendo anjos como mediadores dos homens (Cl 2:18) e incluíram essas idéias como parte do evangelho de Cristo (Cl 2:20-23). Em outras palavras, os mestres do erro, os gnósticos de Colosso, estavam levando o Senhor da Igreja, Jesus Cristo, à insignificância.


Diante de tamanho perigo, Paulo escreveu aos colossenses para protegê-los dessa heresia mortal, e o fez com oração (Cl 1:3-14); aplicou-lhes a forte doutrina sobre o poder e o senhorio absolutos de Cristo na igreja (Cl 1:15-27); deu-lhes o seu próprio exemplo de vida, como apóstolo (1:24 a 2:5), e explicou-lhes os valores espirituais que devem modelar a vida cristã (Cl 2:6–4:6). É nesse contexto geral que devemos compreender o texto que ora estudamos. Desta forma, ao afirmar: ... tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz, Paulo não está dizendo que a Lei dos Dez Mandamentos fora abolida, mas está ensinando que a morte substitutiva de Jesus foi suficiente para pagar a nossa dívida pecaminosa. Assim sendo, os que, pela fé, acreditam na eficácia do sacrifício de Cristo, têm sua dívida cancelada, isto é, paga diante de Deus, e estão aptos a desfrutarem de uma nova vida, resultante da graça de Cristo.


Reiteramos que o texto de Cl 2:14 não ensina que a Lei de Deus foi encravada na cruz, e, sim, que a dívida de todos os pecadores arrependidos fora perdoada e a justificação de todos aqueles que, pela fé em Jesus, alcançaram a comunhão com o Pai fora proporcionada. Consideramos cristalino o que Paulo está ensinando: ele não está dizendo que a cruz de Cristo inutilizou a Lei de Deus, mas, sim, que, na cruz, o Senhor proporcionou o perdão dos pecados para a humanidade. Com isso, o apóstolo está dando uma dura resposta aos judeus legalistas e aos gnósticos libertinos, afirmando-lhes que a rigidez cerimonial, a autojustificação proveniente das obras da lei não pagam a dívida pecaminosa que a lei evidencia, e, neste sentido, ela é contra nós (Rm 7:7; Cl 2:14). Por essa razão, afirma Paulo, somente Cristo tem poder para cancelar essa dívida, e o fez na cruz.


Na mente do apóstolo, em nenhum momento existiu a idéia de que a cruz de Cristo tenha anulado a Lei Moral de Deus ou tenha extraído dessa lei o santo sábado; ele mesmo disse: Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei (Rm 3:31). O que ele afirma, em Cl 2:14, é que a cruz de Cristo anulou as leis cerimoniais que regiam os sacrifícios de animais, “sombras” do sacrifício da cruz, e as inúteis posturas legalistas de autojustificação baseadas na Lei Moral, praticadas pelos mestres do erro.


Portanto, a crença comumente difundida de que o apóstolo Paulo ensinou, em Cl 2:14, que o sábado não mais fazia parte das obrigações dos cristãos, é totalmente despropositada. Conforme Carlyle B. Haynes, Supõem alguns que o apóstolo Paulo se referia à mudança do sábado quando escreveu aos colossenses: Ninguém vos julgue por causa dos dias de festas, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo. O sistema cerimonial do Velho Testamento possuía muitas festividades, dias santificados e sábados anuais. Este sistema, imposto até ao tempo da correção, havia expirado com Cristo, para quem apontava. O crente em Cristo não devia, portanto, voltar a esses tipos e sombras. [1]


Desta forma, insistimos em que o texto refere-se a questões espirituais que são consideradas sombras das coisas futuras, o que, obviamente, não diz respeito ao sábado do Senhor, que, segundo as Escrituras, deve ser guardado no sétimo dia da semana e não tem um direcionamento prioritariamente para o futuro, como os demais sábados das festividades judaicas, uma vez que, ao contrário destes, o sábado do Senhor, além de restaurar o vigor físico, tem a finalidade de fazer que os adoradores de Deus, em todos os tempos, tenham sua visão voltada para o passado, para a obra divina da Criação e da Redenção concedida aos nossos antepassados (Êx 20:8-11; Dt 5:12-15).


A cada sétimo dia, portanto, o povo de Deus, de quaisquer tempo e nação, reúne-se para recordar e celebrar o poder criador e redentor do Deus Todo-Poderoso.


CONCLUSÃO: Conscientizados de que o texto de Cl 2:14 não cancela a Lei de Deus, e, por assim dizer, não abole o santo sábado do Senhor, mantenhamos nossa fé firmada na verdade, e, a cada sétimo dia da semana, façamos do sábado momentos em que possamos nos apresentar diante do Senhor com um coração adorador disposto a reconhecer que ele é Criador de toda existência, é Deus Libertador das nossas vidas e Soberano sobre toda a criação: De longe trarei o meu conhecimento, e ao meu criador atribuirei a justiça. (Jó 36:3).
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[1] Carlyle B. Haynes, Do sábado para o Domingo, p 31, Ed. CPB.




Por: Pr. Aléssio Gomes de Oliveira, Lição Bíblica 273, sábado, 19 de novembro de 2005
Fonte: IAPPiedade

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