A expressão é antiga. Ouço-a desde criança. Meus avós conheciam. Até hoje, quinto dos infernos, é expressão popularmente usada. Basta a pessoa ficar muito irada com algo ou alguém para mandar tudo para o quinto dos infernos. Este é o perigo: mandar tudo. Tudo, para o quinto dos infernos, é muita coisa. Nada é o que deveria se mandar, mas os incontroláveis acessos de raiva derrubam a muitos.

Como surgiu a expressão? Esta resposta vai ajudar nossa compreensão. O termo Quinto dos Infernos tem sua origem no quinto (20%) que os brasileiros pagavam de tributos à Portugal, pela extração das riquezas naturais, como o pau Brasil, a cana de açúcar, o ouro, etc. Entendeu? O valor correspondente à quinta parte de tudo que os brasileiros extraíam nas terras do nosso Brasil, tinha de ser enviado à Portugal, do outro lado do Atlântico, ou seja, o quinto ia para um lugar que os brasileiros nem conheciam, um verdadeiro inferno desconhecido e explorador, raivosamente apelidado pelos brasileiros da época de Quinto dos Infernos.

Não é a toa que meus avós conheciam a expressão. Os pais dos meus avós também conheciam. Desde a descoberta do nosso país tal exploração já se desenhava. Hoje, a maioria de nós usa a expressão sem conhecer sua origem. Com o inferno e suas filosofias, parece-me, acontece rotina semelhante.

Olho e constato a presença de muito talento ao meu redor. São pessoas habilidosas, criativas, inteligentes, capazes. Muitas, infelizmente, apesar de todos os dons recebidos, vivem realidades miseráveis na alma. Buscam alternativas, tratamentos, motivações, objetivos, mas praticamente nada encontram. Sem perceber, nas escolhas e caminhos que decidem, têm mandado a quinta parte dos seus dons para o inferno. Nem se dão conta, mas pagam o quinto de suas vidas para o inferno.

A beleza é um dom. Assim como a saúde, a juventude, a voz, a fala, o canto, a pintura, a escrita, o cálculo, o raciocínio, a criatividade, etc. Jogar meu corpo, meu intelecto e meu espírito com todas as combinações de dons recebidos em aventuras inconsequentes é o mesmo que pagar tributo ao inferno, que por sua vez gosta, exige e me seduz a esse tipo de escravidão ignorante.

Como nossos irmãos que estavam aqui no início do Brasil, que não viam Portugal e seus reis, apenas enviavam os 20%, também não vemos o inferno e seus demônios. Eles, no entanto, têm os olhares sedentos por sangue em cima de nós, querendo sorver cada gota dos dons que recebemos única e exclusivamente das mãos do nosso Deus.

Do descobrimento do Brasil até aqui séculos se passaram. Não devemos mais nada a Portugal. O quinto dos infernos transformou-se apenas numa expressão. Com o tempo, entendeu-se que o pau Brasil, a cana de açúcar e o ouro eram riquezas da nossa terra. Não espere quinhentos anos para entender o mesmo em relacão a você, até porque não daria para esperar tanto! Os dons que recebemos foram dados por Deus, o inferno não tem parte nisso. Tributemos nossas melhores ofertas de serviço, adoração, criatividade e energia a Ele, o dono da terra que haveremos de herdar, também conhecida como Paraíso.

Paz!

Fonte: Cálice da Vida

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